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Para ler de olhos fechados

28 fev

Olhando aleatoriamente os livros das prateleiras da Livraria da Travessa do Barra Shopping, esbarro com este livro, “Lendo Tchekov”. Peguei. Já antes de começarem os contos, leio o seguinte parágrafo:

“A folhagem não se movia nas árvores, as cigarras gritavam e o ruído monótono e surdo do mar, que chegava de baixo, falava da paz, do sono eterno que nos aguarda. O mesmo ruído soava lá embaixo, quando não existiam nem Yalta, nem Oreanda; ele soa agora e continuará soandoda mesma forma indiferente e surda, quando nós não mais existirmos. E nessa constância, nessa total indiferença para com a vida e a morte de cada um de nós, talvez se aloje o penhor da nossa salvação eterna, o movimento incessante da vida na terra, da ininterrupta perfeição. Sentado ao lado da jovem mulher, que, ao alvorecer parecia tão bela, tranquilizada e encantada em face desse ambiente de conto de fadas — o mar, as montanhas, as nuvens brancas, o céu imenso –, Gurov pensava que no fundo, se considerarmos bem, tudo é maravilhoso neste mundo, tudo, afora aquilo que nós mesmos cismamos e fazemos, quando nos esquecemos dos desígnios mais altos do ser, da nossa dignidade humana.”

Fiquei feliz. Claro, não pensava ser a única a perder horas pensando sobre a impermanência humana e a constância de todas as outras coisas do mundo. Fiquei feliz pela clareza, perfeição e concisão como as idéias foram postas e a poesia estava lá, na descrição das folhagens, no barulho das águas, na mulher, sempre pensando na vida… E na lembrança de como todo esse mundo é bom. E tão bom que basta que alguém nos diga isso, para que possamos irrefutavelmente concordar, nos lembrando de algum momento em que já tenhamos concluído isso anteriormente.

E aí que depois disso encontrei um livro do Fernando Sabino.

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21 fev

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Para pensar enquanto o feriado ainda não acabou.

10 out

Um pequeno trecho de Paulo Freire.

“Há um sinal do tempos, entre outros, que me assusta: a insistência com que, em nome da democracia, da liberdade e da eficácia, se vem asfixiando a própria liberdade e, por extensão, a criatividade e o gosto da aventura do espírito. A liberdade de mover-nos, de arriscar-nos vem sendo submetida a uma certa padronização de fórmulas, de maneiras de ser, em relação às quais somos avaliados. É claro que já não se trata de asfixia truculentamente realizada pelo rei despótico sobre seus súditos, pelo senhor feudal sobre seus vassalos, pelo colonizador sobre os colonizados, pelo dono da fábrica sobre seus operários, pelo Estado autoritário sobre os cidadãos, mas pelo poder invisível da domesticação alienante que alcança a eficiência extraordinária no que venho chamando ‘burocratização da mente’. Um estado refinado de estranheza, de ‘autodemissão’ da mente, do corpo consciente, de conformismo do indivíduo, da acomodação diante de situações consideradas fatalistamente como imutáveis.

[…] Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser humano é mais do que os mecanicismos que o minimizam” (FREIRE, 1996, p.128-130)

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