Olhando aleatoriamente os livros das prateleiras da Livraria da Travessa do Barra Shopping, esbarro com este livro, “Lendo Tchekov”. Peguei. Já antes de começarem os contos, leio o seguinte parágrafo:
“A folhagem não se movia nas árvores, as cigarras gritavam e o ruído monótono e surdo do mar, que chegava de baixo, falava da paz, do sono eterno que nos aguarda. O mesmo ruído soava lá embaixo, quando não existiam nem Yalta, nem Oreanda; ele soa agora e continuará soandoda mesma forma indiferente e surda, quando nós não mais existirmos. E nessa constância, nessa total indiferença para com a vida e a morte de cada um de nós, talvez se aloje o penhor da nossa salvação eterna, o movimento incessante da vida na terra, da ininterrupta perfeição. Sentado ao lado da jovem mulher, que, ao alvorecer parecia tão bela, tranquilizada e encantada em face desse ambiente de conto de fadas — o mar, as montanhas, as nuvens brancas, o céu imenso –, Gurov pensava que no fundo, se considerarmos bem, tudo é maravilhoso neste mundo, tudo, afora aquilo que nós mesmos cismamos e fazemos, quando nos esquecemos dos desígnios mais altos do ser, da nossa dignidade humana.”
Fiquei feliz. Claro, não pensava ser a única a perder horas pensando sobre a impermanência humana e a constância de todas as outras coisas do mundo. Fiquei feliz pela clareza, perfeição e concisão como as idéias foram postas e a poesia estava lá, na descrição das folhagens, no barulho das águas, na mulher, sempre pensando na vida… E na lembrança de como todo esse mundo é bom. E tão bom que basta que alguém nos diga isso, para que possamos irrefutavelmente concordar, nos lembrando de algum momento em que já tenhamos concluído isso anteriormente.
E aí que depois disso encontrei um livro do Fernando Sabino.
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